As fases de um relacionamento com Deus

O livro do profeta Habacuque é conhecido por um versículo muito lindo que diz:  “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no SENHOR, exultarei no Deus da minha salvação.” Habacuque 3:17-18. Essa semana ao fazer meu devocional em cima desse livro composto por apenas 3 capítulos, refleti sobre algo muito profundo e que revelava partes da minha própria vida. Chamei isso de – as fases de um relacionamento com Deus- Quais são? E como passar por elas?

No primeiro capítulo desse livro o profeta inicia sua oração com uma queixa:

Até quando, Senhor, terei de pedir socorro? Tu, porém, não ouves. Clamo: “Há violência por toda parte!”, mas tu não vens salvar.
Terei de ver estas maldades para sempre? Por que preciso assistir a tanta opressão? Para qualquer lugar que olho, vejo destruição e violência. Estou cercado de pessoas que discutem e brigam o tempo todo. Habacuque 1:2,3

Ao ler toda a queixa de Habacuque que vai do verso 1 ao 4 me vi na primeira fase desse relacionamento com Deus, quando iniciamos essa busca geralmente -foi o meu caso- buscamos por interesse de alguma coisa, é como quando estamos vivendo um momento de muita dor, a perda de algo ou alguém que você ama, uma doença, buscando algo muito desejado e você olha por todos os lados e só vê circunstâncias difíceis e dolorosas, você se acha bom, faz coisas certinhas e acha que Deus te deve alguma coisa, então você chega no momento de oração e nem lembra ou nem conhece quem ele é, só sabe gritar a sua dor clamando por ajuda, clamando para que ele tire isso de você, clamando para dormir e acordar só quando tudo estiver resolvido por Deus, você sabe que só ele pode resolver então busca o caminho mais fácil e de menor dor possível. Passar pela dor? Ninguém em sã consciência deseja acredito.

Para completar o desespero, você olha a realidade de outras pessoas e começa a comparar, então tudo se torna mais pesado, porque pensamos como o Senhor permite que eu veja tanta injustiça e me deixa aqui assim,  será que ele não vai fazer nada? É exatamente a queixa do profeta e a nossa em muitos momentos da nossa vida.

Entretanto, do verso 5 ao 11 desse primeiro capítulo temos a resposta do Senhor e nesse ínterim a coisa começa a mudar um pouco, pois além de ter que lidar com a nossa dor, temos que lidar com a resposta de Deus que não é em muitas situações, o que gostaríamos de ouvir, ele não passa a mão em nossa cabeça e diz “tadinho de você, não fica assim eu já vou tirar essa dor tá” rsrsrs, veja a resposta dele:

“Observem as nações ao redor; olhem e admirem-se! Pois faço algo em seus dias, algo em que vocês não acreditariam mesmo que alguém lhes contasse.
Estou LEVANTANDO os babilônios, um povo cruel e violento. Eles marcharão por todo o mundo e conquistarão outras terras.
São conhecidos por sua crueldade e decidem por si mesmos o que é certo.

Habacuque 1:5-7

“Todos eles vêm prontos para agir com violência; seus exércitos avançam como o vento do deserto, ajuntando prisioneiros como se fossem areia.
Zombam de reis e príncipes e desprezam todas as suas fortalezas. Constroem rampas de terra contra seus muros e as conquistam.

Habacuque 1:9,10

Claramente vejo Deus reafirmando toda a situação que Habacuque ou mesmo nós estamos passando, a circunstância que você se pergunta por que tenho que ver isso?  Na verdade é como se o Senhor dissesse: “ sou eu que estou permitindo, sou eu que estou fazendo”. Sabemos que as situações que acontecem em nossa vida podem se dar por muitas maneiras, provocadas por nós mesmos, por outras pessoas, mas sabendo que nada foge do controle de Deus quando pertencemos a ele, também precisamos compreender que muitas situações que ocorrem podem ser totalmente direcionadas por Deus para o cumprimento dos seus propósitos.

Nessa situação que Habacuque se queixa temos o contexto do povo de Israel sendo despedaçado pelos Babilônios após muitas e muitas advertências dos profetas enviados por Deus chamando-os ao arrependimento, um povo que se perdeu em seus pecados e idolatria que não queria saber de Deus, e este, sendo santo e justo precisava fazê-los passar por tudo isso para que houvesse arrependimento e mudança de vida.

Em outro contexto temos Jesus sendo levado pelo próprio Deus ao deserto para ser tentado pelo diabo:

Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo.

Mateus 4:1

Diante dessas possibilidades podemos compreender que seja para chamar-nos ao arrependimento dos nossos pecados, seja para forjar o nosso caráter e nos preparar para um propósito maior como com Jesus, Deus na sua infinita sabedoria vai permitir situações dolorosas e difíceis, ele é o mesmo que abre a ferida, mas também fecha e entenda não para nos matar, mas para nos moldar a forma dele. Como eu poderia questionar os caminhos de Deus se eles não são os meus se sou apenas um vaso de barro nas mãos do oleiro?

Passada essa primeira fase na qual buscamos a Deus de forma intensa com toda dor da nossa alma que grita, à medida que vamos caminhando com ele, conhecendo-o de perto e entendendo o porquê das circunstâncias permitidas, entramos em uma segunda fase evidenciada por essa segunda oração de Habacuque.

Ó Senhor, meu Deus, meu Santo, tu que és eterno certamente não planejas nos exterminar! Ó Senhor, nossa Rocha, enviaste os babilônios para nos DISCIPLINAR, como castigo por nossos pecados.
Mas tu és puro e não suportas ver o mal e a opressão; permanecerás indiferente diante desses traiçoeiros? Ficarás calado enquanto os perversos engolem os que são mais justos que eles?

Habacuque 1:12,13

Nessa segunda fase, Habacuque já consegue deixar de olhar tanto para a dor dele e do seu povo e para injustiça que ele tem que observar por todos os lados, ele ainda questiona e cobra Deus por uma intervenção, porém, agora ele já consegue exaltar a Deus por sua santidade por sua majestade, ele começa a oração reconhecendo quem Deus é provavelmente porque  já passou tempo suficiente com Deus para conhecê-lo melhor, agora ele compreende que o que os Babilônios estão fazendo é porque Deus está permitindo e usando-os  para disciplinar o povo pelos pecados cometidos durante tanto tempo e a falta de arrependimento.

Meu filho, não rejeite a disciplina do Senhor ; não desanime quando ele o corrigir.
Pois o Senhor corrige quem ele ama, assim como o pai corrige o filho a quem ele quer bem.

Provérbios 3:11,12

Assim como um pai ele nos corrige, tudo que Deus tem permitido em sua vida não é porque ele é mal, e sim por que ele é bom, perfeito, santo e quer nos ensinar a ser como ele e o caminho que devemos andar. Será que se tudo estivesse bem e perfeito você entenderia quando ele falasse? O povo de Israel representa a nossa humanidade tendenciosa ao pecado, egoísmo e orgulho, se tudo está bem em  minha vida ao agir na minha própria força e da forma que eu quero,  para que precisaria de Deus? Então ele fala uma, duas e quantas vezes forem necessárias antes de permitir o que tiver que permitir para não te perder completamente.

Quando penso em tudo que eu passei no deserto que o Senhor permitiu que eu entrasse, vejo exatamente essas fases como com Habacuque, primeiro uma dor intensa e questionadora, depois vem o entendimento do porque de muitas coisas, da disciplina, da minha condição de pecadora e da sujeira que havia em mim e que precisava ser removida, purificada. Você passa a compreender o poder da graça, do amor de Jesus e do sacrifício dele, da necessidade de passar pelo que ele passou e enxergar que há um propósito em tudo que está acontecendo, um propósito maior que a nossa dor.

Após esse segundo questionamento de Habacuque vem a segunda resposta do Senhor:

Esta é uma visão do futuro; descreve o fim, e tudo se cumprirá. Se parecer que demora a vir, espere com paciência, pois certamente acontecerá; não se atrasará.
“Olhe para os arrogantes, os perversos que em si mesmos confiam; o justo, porém, viverá por sua fidelidade a Deus.

Habacuque 2:3,4

“Em breve, porém, seus cativos os insultarão; zombarão deles, dizendo: ‘Que aflição espera vocês, ladrões! Ficaram ricos pela extorsão; até quando continuarão desse modo?’.

Habacuque 2:6

A resposta do Senhor aqui é como se ele dissesse: “estou vendo tudo que está acontecendo, estou vendo o que os maus fazem e o tempo deles também chegará”, o tempo de aflição, o tempo em que o nosso grande inimigo que não é carne e sangue será derrubado e assim como Jó a quem foi permitido satanás tocar, chegou o tempo dele também ter que se retirar e Deus restituir tudo que foi arruinado na vida de Jó.

Após essa resposta, Habacuque entoa uma terceira oração que representa a terceira fase do relacionamento com Deus para ele e para nossa vida:

Ouvi a teu respeito, Senhor ; estou maravilhado com tuas obras. Neste momento de tanta necessidade, ajuda-nos outra vez, como fizeste no passado. E, em tua ira, lembra-te de tua misericórdia.
Vejo Deus atravessar os desertos, vindo de Edom; o Santo vem do monte Parã. Seu esplendor envolve os céus, e a terra se enche de seu louvor.
Sua vinda é radiante como o nascer do sol; raios de luz saem de suas mãos, onde está escondido seu poder.
A peste marcha adiante dele, e a praga vem logo atrás.
Quando ele para, a terra estremece; quando ele olha, as nações tremem. Ele derruba os montes perpétuos e arrasa as colinas antigas; dele são os caminhos eternos.

Habacuque 3:2-6

Marchaste sobre o mar com teus cavalos, e as águas poderosas se agitaram.
Estremeci por dentro quando ouvi isso; meus lábios tremeram de medo. Minhas pernas vacilaram, e tremi de terror. Esperarei em SILÊNCIO pelo dia em que a calamidade virá sobre nossos invasores.
Ainda que a figueira não floresça e não haja frutos nas videiras, ainda que a colheita de azeitonas não dê em nada e os campos fiquem vazios e improdutivos, ainda que os rebanhos morram nos campos e os currais fiquem vazios,
mesmo assim me alegrarei no Senhor ; exultarei no Deus de minha salvação!
O Senhor Soberano é minha força! Ele torna meus pés firmes como os da corça, para que eu possa andar em lugares altos.

Habacuque 3:15-19

É maravilhoso ver a evolução nas orações de Habacuque, aqui ele se regozija na majestade e soberania de Deus, em como ele é perfeito e entende que é necessário esperar em silêncio pela justiça e intervenção de Deus em sua causa. Nessa fase há um descanso e confiança na soberania de Deus, que no tempo certo vai agir e mesmo que ele não faça, mesmo que a situação seja a pior possível ele vai se alegrar no Senhor porque ELE é a sua força.

Falando por minha própria experiência digo que é possível chegar nesse lugar, é um lugar de paz, um oásis em meio ao deserto, é a paz que excede todo entendimento que a compreensão humana e limitada não consegue compreender.

 No momento em que escrevo esse texto eu ainda não vi a resposta que eu queria para a minha oração mais dolorosa lá do início, como Habacuque fez, eu vi o que estava ruim ficar pior, vi Deus mexer em áreas da minha vida que se tornaram junto com outras incertas e totalmente imprevisíveis. Contudo, em meio a tudo isso,  hoje eu acordo com uma alegria que não sei explicar, um amor do Senhor, do alto, que eu desejo compartilhar.

Hoje preparei meu café com meu amado bolinho de banana, sentei para escrever esse post e senti tanta alegria e amor que não sei explicar, conheci Deus de uma forma que jamais teria conhecido se não tivesse passado pelo que passei, eu me apaixonei por ele de verdade, quantas vezes eu disse para Deus que não conseguia amá-lo como queria ou como ele merecia, pedia tanto para sentir esse amor que via muitas pessoas evidenciarem em suas vidas e nesse exato momento meu coração está transbordando de amor por Deus, de gratidão por tudo que ele me ensinou, por me ensinar que só posso estar inteira e completa NELE, que não são pessoas, bens materiais, viagens e tantas coisas que eu me apegava e amava que vão preencher meu vazio, são as coisas simples como tomar um café com ele, sentir-se parte de um propósito maior, ver que apesar da minha sujeira ele me escolheu, me amou e ainda me usa para a obra dele.

Aprendi que não preciso esperar o milagre chegar para ser feliz, posso DECIDIR ser feliz hoje, desfrutar da presença dele em cada detalhe do meu dia se eu puder parar de olhar para dor e para o que eu ainda não tenho e passar a olhar para cada pequeno milagre que já experimentei, cada gesto de amor dele, por tudo que ele já conquistou na cruz por mim. Quando penso em tudo isso eu sei que já valeu a pena todo o processo e que é possível se alegrar nele ainda que a figueira não floresça.